terça-feira, maio 02, 2006

Figas.

Estou dentro de um aquário com a minha altura. Estreito e vertical.
Há já bastante tempo que a água começou a entrar. Assim que a primeira gota trespassou o sapato e tocou o dedo pequenino do pé, apercebi-me que não poderia permanecer aqui dentro muito mais tempo.
Neste momento, o nível da água está precisamente acima do lábio superior e abaixo do nariz. Mais um milímetro e vou começar a espernear e a saltar daqui para fora.
Uma vez fora, vou sacudir-me como os cães, de preferência para cima dela. Ela que não me paga a tempo e horas, que me fala mal, que me desconsidera, que me dá neuras de manhã, à tarde e à noite. Ela que vai ficar agarrada, sem ninguém para fazer o trabalho.
Já encontrei uns caixotes maneirinhos lá pelos corredores para pôr o copo das canetas, o vaso com a planta e as fotografias da família - isto se eu vivesse num filme, claro. Como não vivo, vou trazer o copo das canetas, sim, porque é meu, e mais uns livros e umas papeladas que fui acumulando. O resto quero que se... fique por lá, a aguardar o desgraçado que for ocupar a cadeira. Que ainda por cima tem o assento solto e dá origem a desequilíbrios espalhafatosos. Mas como ninguém me avisou disso quando lá cheguei, também não vou avisar ninguém quando sair. Há coisas que temos de descobrir sózinhos.