domingo, março 26, 2006

Byte me.

Fez hoje uma semana que o meu computador teve alta do hospital.
Veio de lá com um coração novo. Sístole e diástole como se querem: coordenadas.
Antes disso, claro está, teve um colapso. Grave, devo dizer. E eu também andei lá perto porque, nos dias de hoje, ficar sem computador ou sem telemóvel dá direito a 3 meses de baixa por depressão profunda.

Primeiro pensei que havia esperança. Abri a agenda nas letras G e N (Geeks e Nerds)* e contactei alguns dos meus amigos entendidos na matéria para explicar o sucedido e tentar perceber o que poderia ser. Alinhavei umas datas com eles, a fim de poderem conferir o estado da máquina. Acabei por desmarcar tudo e decidir-me por um médico à seria. O mesmo é dizer que, desta vez, resolvi abrir os cordões à bolsa.
Quando entrei nas urgências, mantinha a esperança de que ele se salvaria sem grandes intervenções ou espalhafatos. A meio da tarde, quando me ligou o enfermeiro a narrar a evolução da situação, confesso que fiquei um bocado mais apreensiva. Disse-me que ia ser necessário transplantar umas peças, ajeitar outras tantas e, quanto às antigas

- Ele não reconhece o disco, compreende?
- Compreendo.
- Estamos a tentar que reconheça, mas caso isso não aconteça...
- Sim...?
- Não vamos conseguir recuperar nada.
- Ah.
- Vamos ver...
- ...

Por qualquer razão que desconheço, continuei esperançosa na recuperação da informação, que não era pouca.
Eu sou o tipo de pessoa que não faz cópias de segurança. Para ceder a essa maçada, é preciso que o computador já esteja mesmo muito cheio. Mas isso, só por si, não é o problema; a grande chatice é ficar engasgado, impedido de funcionar a uma velocidade decente que não me faça mandar três murros no teclado e clicar no rato como se não houvesse amanhã

- Vá láááá, pááááá!

Ora para quem não faz backups, o medo das avarias é exponencialmente superior ao de quem tem tudo gravadinho em CD's e catalogado alfabeticamente.
Escusado será dizer que foi tudo c'o caraças (para não dizer pior). A informação armazenada durante anos foi enterrada juntamente com o velho coração.
Primeiro foi o choque. Depois a tragédia. A seguir o drama e o horror. Como não havia nada a fazer, aguentei e não chorei.
O aparelho voltou para casa, combalido mas sereno. Eu tentava não pensar que nem um ficheirito de excel se tinha salvo.
Liguei tudo e pus isto a funcionar normalmente, ao mesmo tempo que afastava da ideia a desgraça sucedida. (Dupla dsgraça, aliás.)
Uma semana passada, cá estamos. Eu e ele, a funcionar a bom ritmo, sem saudades do passado. Por algum motivo que ainda não consegui apurar, não senti grande falta do que desapareceu. Não é que não tenha precisado, porque precisei. Mas talvez tenha sido por não haver nada a fazer, e há que aceitar as circunstâncias como elas são. E também porque o que foi pr'ó galheiro pertencia a um passado a que não quero permanecer ligada.
Motor novinho, coração vazio. Backups? Não, obrigada.

Siga la fiesta!

*Designação afectuosa, obviamente. Sem eles eu não sobreviveria. Bem-hajam, meus caros.

3 Comments:

Blogger AMAFAS said...

Muito bom dia! E vivam os médicos informático...

segunda-feira, março 27, 2006 9:25:00 da manhã  
Blogger RPM said...

Uma das coisas a que acho piada é ao facto de um utilizador de computadores acreditar em todas as balelas que lhe são “vendidas”.
Imagina um escritório qualquer com informação vital num disco rígido. Achas que eles poderiam aceitar a resposta de que a informação não era recuperável? Tudo é recuperável.
Mas como tudo o que perdeste faz parte de um passado a que não queres permanecer ligada atrevo-me a dizer que há males que vêm por bem. Certo?

quarta-feira, março 29, 2006 12:40:00 da tarde  
Blogger Cabra Cega said...

Verdade seja dita que ele me apresentou uma solução que permitiria recuperar a informação. Coisa para uns EUR 2000, ou algo aproximado. Abrir o disco em câmara de vácuo, frigorífica, dos comuns ou municipal; não me lembro. Claro que lhe respondi que a informação era importante, mas não valia esse dinheiro todo.
De resto, certíssimo. É começar tudo de novo.

quarta-feira, março 29, 2006 7:26:00 da tarde  

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