sábado, abril 29, 2006

Se calhar assustou-se.

sexta-feira, abril 28, 2006

Discurso directo [1]

Naquele dia decidi não tornar a dizer o teu nome. Jurei esquecer-lhe as letras: os traços com que se desenham e o som que produzem quando ditas todas juntas.
Por alguma razão que até ao momento desconheço, todos os dias chovem na minha vida pessoas com o teu nome. Por todos os motivos, vindas de todas as partes. Apesar do sobressalto que ainda me causa, tento acreditar que é por um bom motivo. Um bom presságio. Um bom augúrio. Não há por que negar que fui feliz durante o tempo que chamei por ti. E o teu nome pode voltar aos meus ouvidos sempre, as vezes que quiser, mas agora com a obrigatoriedade de vir em pessoas diferentes de ti. Porque igual ou pior também é difícil. Só mesmo melhor.
E um dia destes, assim de repente, vou ouvir o teu nome e aperceber-me que já não é teu e que, sem querer, te esqueci.

Perguntaram-me se estou apaixonada.

quinta-feira, abril 27, 2006

Efeméride.

Aterrou na minha caixa de correio a seguinte informação:
Na quarta-feira, 4 de Maio de 2006, à 1 hora, 2 minutos e 3 segundos, as horas e o dia serão assim:
01:02:03 04/05/06
Isto nunca mais vai acontecer na sua vida.
É curioso, de facto. Mas se eu pensar na quantidade de coisas que nunca mais vão acontecer na minha vida, isto não tem interesse absolutamente nenhum - se é que chegou a ter algum.

quarta-feira, abril 26, 2006

Lullaby.


Quando chego a casa a desoras, cansada das gentes e das coisas
tomo banho,
mato a fome,
peço-lhe que cante para mim até eu adormecer.

terça-feira, abril 25, 2006

Publicidade e Anonimato.

Como se não fossem já bastantes os vícios que tenho, arranjei mais dois.
Dois.
Para o segundo não há link. Ando a tecê-lo, lentamente, com jeitinho.

domingo, abril 23, 2006

S: de Surpresa.

Se me tivessem dito, há uns dias, meses ou anos atrás, que a tarde de hoje iria acontecer, eu não teria acreditado.

A melhor, em muitos anos.
A primeira, das muitas que ainda espero.

Operator?


Abençoado seja o aparelho que recebe os telefonemas mais inesperados. E mais desconcertantes. E perfeitos.

sexta-feira, abril 21, 2006

Miss Protocolo.

«Don't be reckless with other people's hearts, don't put up with those who are reckless with yours.»

É por esta e por outras parecidas que vou aceitar o convite e comparecer à festa. E adiar o ménage à quatre que tinha planeado com as pantufas, com o sofá e com comando da televisão.

quinta-feira, abril 20, 2006

Agarrem-me!

Estive duas horas a ouvir um tipo a dar-me lições de gramática. Pelo meio, ouvi-o conjugar o verbo «desfolhar» para se referir ao acto de virar as páginas de um jornal. Foi, provavelmente, um dos maiores desafios que o meu auto-controlo alguma vez enfrentou.

quarta-feira, abril 19, 2006

Eu sei.

O mês de Abril é um bom mês. Dos múltiplos episódios que assinalam as várias etapas da minha vida, incluindo o seu início, muitos deles ocorreram no mês de Abril. Não sei se por coincidência, se por vontade da Providência. Também não me interessa. Seja como for, é um mês que me dá segurança e, portanto, tendo a achar que o que acontece nos seus 30 dias tem uma energia positiva, ou lá o que é que os budistas, feng-shuistas e afins gostam de lhe chamar.

A R. assinou hoje a escritura da nova casa.
Ela não acredita, mas eu sei que rubricou as páginas da mudança. Do novo ciclo, da nova era.
Para melhor muda-se sempre, já diz o povo; porque para pior seria difícil, diria ela. Não creio. Se eu tivesse dúvidas, não teria comprado as cervejas fresquinhas para o brinde que a ocasião impunha. E muito menos o saca-caricas (que me deu uma trabalheira a descobrir na megastore dos chineses).

Usurpando, e descaradamente, o slogan de uma instituição cujo nome se me escapa agora: Ela ali vai ser feliz.

Alegria no trabalho.

Quando chego à minha secretária antes da hora, coisa que já não acontece frequentemente, a primeira coisa que faço depois de pendurar o casaco e pousar a mala, é ir tirar um café a uma máquina esquisita que há na sala de reuniões.
Por vezes, enquanto a dita escorropicha o café para dentro do copo, ponho-me a pensar há quanto tempo estará a água no depósito da máquina, se já terá lodo, fungos ou girinos. Como isto normalmente me faz perder a vontade de beber o café, já optei por pensar no assunto apenas uma vez por semana; e ando a tentar bater o record dos 15 dias.
Depois disto, passo à fase seguinte. Sento-me aqui, com o copo a ferver, e faço a minha revista de imprensa sossegada, em silêncio, queimando a língua pelo menos três vezes na bebida. Apesar disso, é o meu momento de serenidade, de quietude, de contacto com «o país e o mundo».
É normalmente quando me encontro neste nirvana de actualidades que chega a C.. Sorri, diz «bom dia», sobe a escada e põe-se a trabalhar. A seguir chega a F.. Sorri, diz «bom dia», diz que havia problemas no metro, que teve de vir a pé desde Entrecampos, que está vento, que está cansada, sobe a escada e continua a falar. Convém introduzir aqui um elemento espacial que ajudará o leitor a ter uma ideia mais exacta do drama que isto é: mezzanine. Algo parecido, em arquitectura apenas, com isto.
Ora bem, elas trabalham em cima – a C. trabalha, aliás – e eu em baixo. Até à hora em que nos levantamos para ir almoçar, não há qualquer contacto visual; apenas, e infelizmente porque já é muito, auditivo. Portanto, quando a F. entra neste espaço, o «país e o mundo» tornam-se completamente secundários (assim como toda a responsabilidade que temos – eu e a C. - em mãos, e pela qual somos pagas no final do mês). Não porque queiramos, mas porque somos obrigadas a inteirar-nos dos assuntos do marido, da sogra, dos pais, da irmã e do namorado, do IVA, dos frescos do Feira Nova, das reuniões na Junta, da fuga de gás e do dentista. Chego a meio da manhã a sentir-me como normalmente me sinto ao fim do dia.
Quando a hora do almoço se aproxima, por vezes acontece um fenómeno engraçado: o da dispersão. Umas vezes sou eu. No momento em que se agarram nas carteiras e nos telemóveis, indicando que está na hora da saída, eu, que não consigo ouvir nem mais uma palavra naquele timbre, desmarco-me para almoçar fora daqui com uma desculpa qualquer. Muitas vezes acabo por comer sozinha e, confesso, não me aborrece rigorosamente nada.
Outras vezes acho que a C. faz o mesmo. «Vou almoçar com a minha mãe, desculpem não ter avisado antes…», diz ela. Será que vai? Fico sempre com esta dúvida.
Vezes há ainda em que ambas usamos o mesmo truque sabujo, sem qualquer acordo prévio. Ela vai almoçar com a mãe e eu… sei lá, pode ser com o pai. Para o efeito serve perfeitamente.
É muito triste termos de ser assim para as pessoas. A F. é esperta, pessoa bem formada, simpática e generosa. Mas tem este valente «senão». Chateia. Tira do sério. Não trabalha nem deixa trabalhar. E se é verdade que muitas vezes não me apetece trabalhar, mais são aquelas em que não me apetece ouvi-la.
Hoje, por exemplo, «vou almoçar com a minha mãe». E estou de saída.

terça-feira, abril 18, 2006

Panaceia.



O estado do Estado deprime-nos.
O Estado obriga-nos a trabalhar p'ra caneco, muitas vezes em empregos de que nem sequer gostamos e onde não nos é dado o devido valor.
Como trabalhamos p'ra caneco, temos problemas com a família porque não passamos tempo nenhum em casa. E ainda por cima somos mal pagos (o que também, só por si, nos deprime e nos arranja sarilhos no lar).
Se a culpa é do Estado - porque é - será que o Estado comparticipa este magnífico ansiolítico?

V.

Quando o meu computador teve o colapso, os endereços de e-mail foram todos à vida (juntamente com tudo o resto).
Fui recuperando a agenda, lentamente, acrescentando fulano e cicrano à medida que me ia lembrando. Tenho a impressão que ainda me faltam alguns contactos - ou muitos - mas há um que ainda não recuperei e do qual me lembro várias vezes. Hoje, por exemplo, apetecia-me escreve-lhe e não há maneira de me recordar do mail e, pasme-se, não conheço ninguém que mo possa dar. Isto num mundo em que toda a gente conhece gente que eu conheço é, no mínimo, sórdido.
Não me recordo muito bem como é que ele apareceu na minha vida. Mas até sei porque é que desapareceu. O meu jeitinho para lidar com as pessoas é um mimo...
Lembro-me dele porque se agora eu lhe escrevesse...

- O meu aspirador saiu de casa há três dias, não deixou bilhete e esta tarde ligaram-me da estação dos correios de Vila Franca de Xira a dizer que encontraram um rim dentro duma caixa de agrafos... e que pode muito bem ser o dele.

... ele perceberia e responderia à altura.

Tenho saudades.

domingo, abril 16, 2006

Quantos são?

Depois de dois ou três dias a recolher pistas que saltavam no meio das conversas, hoje percebi, assim num flash, que a minha vida poderia ser muitíssimo diferente. Bastaria eu querer; porque afinal, ao contrário do que se diz por aí, há muita coisa que, para se ter, é só pedir.
E se por um lado quero que as coisas mudem, por outro tenho de ver até que ponto estou disposta a ir contra mim, contra o que fui até aqui, contra tudo o que até à data tem sido a conduta que escolhi e que considero correcta. Não me tem trazido grandes vitórias, notáveis ou visíveis (tem trazido vitórias discretas, sem dúvida) mas, pelo menos, permite-me dormir descansada todas as noites, sem ser incomodada por uma consciência sibilante. Ela simplesmente não pia.
Chego à conclusão que se o meu ego não estivesse perfeitamente domesticado, de hoje em diante seria bem capaz de se comportar - ou de me fazer comportar - de forma muito pouco elegante.

sábado, abril 15, 2006

do Lat. pensare

Quando eu era criança foi-me explicado que o que distingue os animais dos humanos é a capacidade de pensar. Até ao momento, não encontrei qualquer motivo para discordar, embora já me tenha apercebido que nem todos os humanos utilizam essa capacidade.
Pensar é uma actividade produtiva e que entretém, ainda que muitas vezes complique a vida graças à infindade de silogismos e teorias que conseguimos criar a partir de assuntos que, à primeira vista, não têm qualquer importância. Mas mais que isto, na minha duvidosa opinião, pensar só é um acto completo quando lhe associamos o conversar. Porque pensar em conjunto é saudável, trocar ideias faz bem, discutir é empolgante e aprende-se sempre qualquer coisa num debate de qualquer género.
Se pudéssemos apenas pensar, sem nunca nos ser dada a possibilidade de expôr a alguém o que nos vai na cabeça, e de ouvir o que o outro pensou em troca, desconfio que esta capacidade que nos diferencia dos bichos e, supostamente, nos torna superiores, não serviria para grande coisa. Creio até que o número de óbitos aumentaria porque pensar sem expressar faz muito mal à saúde. Eu penso muito. Às vezes muito mal. Mas, fundamentalmente, mais do que preciso e do que gostaria. E quando pressinto que vou ter um surto de raciocínios, pego no telefone e peço reforços: dois ouvidos e uns quantos pareceres. Porque já sei que:

(i) posso estar a pensar mal e tenho de ser corrigida e encaminhada para a ideia certa;
(ii) posso estar a pensar bem e preciso dessa confirmação e de ser incentivada a avançar, sem medos;
(iii) quando me ponho a pensar sózinha em temas complexos acabo por ficar de tal forma mal humorada que já ninguém me atura;
(iv) preciso que alguém me ouça apenas, mesmo que não tenha nada para dizer;
(v) se não me mandam parar eu sózinha não consigo; e enlouqueço.

sexta-feira, abril 14, 2006

Infiltrações.

Mais uma vez, um enorme aplauso, de pé, durante 5 minutos, para Spike Lee.
Sete estrelas para o Inside Man. Ou oito.
Finalmente um filme que quebrou o feitiço em que me vejo envolvida há umas quantas semanas: o dos filmes maus. Não me lembro de nenhum, visto nos últimos tempos, que me tenha deixado a pensar, me tenha arrepiado ou provocado qualquer sensação. Foram banhadas atrás de banhadas. Mais lavadinha seria impossível.
Acho bem que os bons realizadores de vez em quando levantem o rabo da cadeira para fazer o que lhes compete. Bravo! (Deve pronunciar-se «Brravôôô!».)

Termino com um pequeno apontamento de gaja:
Onde é que mora o Clive Owen? Vou empacotar-me e enviar-me para lá.

quinta-feira, abril 13, 2006

No Vaticano há muita gente desocupada.

Inicialmente, ia transcrever só o primeiro parágrafo.
Passar muitas horas a ver televisão, a navegar na Internet ou a ler jornais são actividades consideradas pelo Vaticano como "novos pecados", de acordo com a nova orientação enunciada pelo penitenciário-mor, o cardeal Francis Stafford.
Depois, como o primeiro parágrafo me enervou, resolvi copiar o segundo.
O delegado do Papa para a cerimónia do rito da reconciliação (uma celebração católica tradicional em Roma retomada este ano) apresentou um longo elenco de perguntas a que os fiéis devem responder, em exame de consciência, antes de se aproximarem do sacramento da penitência. Entre essas perguntas coloca-se a questão relativa à forma como se passa o tempo, comparando-se o investimento nos media (televisão, Internet e jornais) com o tempo despendido a "meditar e a ler a Sagrada Escritura".
Como os dois primeiros, em conjunto, me tiraram do sério, não aguentei e tive de enfiar aqui a notícia toda.
De acordo com o Vaticano, passar muito tempo a ler jornais, a ver televisão ou a navegar na Internet diminui a dedicação à fé cristã, pelo que aquelas actividades devem ser consideradas como dos "novos pecados".
Mas quem é afinal o não-sei-quantos Stafford para decidir acerca do que é pecado ou não é?
E o que é que distingue um pecado velho dum pecado novo? Se eu quiser cometer um que já tenha assim uns... vejamos... uns 10 anos, mais ou menos, o que é que tenho de fazer? Quantas velas apagará a Gula em 2009?
Se está a ler isto há mais de 3 minutos, tenho más notícias. É melhor começar já a rezar uma ou duas Avé Marias. Acaba de se tornar num pecador moderno.
E como isto levou mais de 5 a escrever, já devo ter o quarto pronto no Purgatório.
Com todo o respeito que os católicos, enquanto pessoas, merecem: esta merda parece impossível.

quarta-feira, abril 12, 2006

Retalhos pessoais.

Tenho a terrível mania de querer contar tudo, resumir tudo, explicar tudo, dissecar tudo, perceber tudo. Ser assim cansa como tudo.
Depois da merda, que ainda assim foi pouca e cheira-me (que verbo tão a propósito) que vai haver mais, vem a bonança.
Há sol e calor, os níveis de boa disposição sobem, uma pessoa relativiza mais, trabalha melhor e deseja acabar o dia sentada numa esplanada à beira rio, a beber uma imperial e a catar tremoços dum pires mal lavado.
Há episódios a mais para sintetizar e eu sou pessoa de palavras; só consigo dizer com muitas tudo aquilo que normalmente se diz com poucas.
A França mostrou quem manda, a Itália inverteu o sentido, pelo meio lembro-me de ter feito anos (uma vez por ano acontece-me, assim de repente), de ter comprado umas coisas e de me ter aborrecido com algumas pessoas. Ou então sou pouco tolerante, ríspida, não sei perceber, reajo rápida e exageradamente. Sei lá. Não sou como as outras, para o bem e para o mal. Às vezes arrependo-me e, se o tempo voltasse atrás, faria de outra forma. Duma que não me deixasse a perder, como normalmente acontece.
Gosto de pensar que as coisas vão mudar. Que a minha mãe tem razão (por ser, provavelmente, a criatura mais lúcida que alguma vez conheci; e não é o laço de sangue que me obriga a pensar assim... se tiver que falar do meu pai o discurso não será, de todo, o mesmo). Gosto de fazer projectos para os desconstruir logo a seguir e maldizer os dias que se sucedem iguais, sem graça, sem novidade. Reformulo: quero acreditar que as coisas vão mudar. Quero o dia e a hora e a roupa que devo vestir no instante da mudança. Quero certezas. Factos. La Palissadas, se preciso for.
Enquanto nada disso acontece, tenho de ver se bebo menos: para poupar dinheiro, para cantar menos músicas da Mónica Sintra ou da Claudisabel e para tomar conta dos meus pertences, tais como os pensamentos, as ideias e o número de telefone; o álcool pode ser a melhor e a pior coisa da vida. Mas isto já alguém deve ter dito.

Não sei se alguma vez fiz tão pouco sentido como agora. E hoje nem bebi.

sábado, abril 01, 2006

A Gerência informa...

... que vai haver merda.